sábado, 15 de janeiro de 2022

Porque nos falta a alegria?


Hoje a nossa sede é sublinhada no parágrafo que escutávamos do capítulo II do  evangelho de João, onde o que é que aconteceu ali? 

O que quer que seja, a vida cristã é uma espécie de casamento, a vida cristã é o lugar onde não falta a alegria, e cada um saberá dizer isto com a sua vida, cada um saberá dizer isto com o seu perurso, com as suas feridas, com as suas cicatrizes... 

A mesma festa e a mesma alegria que conhece dias de dor, dias de sofrimento, conhece lágrimas e que conhece superação, que conhece erguer-nos uns aos outros e que conhece dias de sol e dias de chuva... não sabemos bem o que é que João quer dizer.

Esta história que escutámos hoje é inédita nos evangelhos, mais nenhum outro tem um paralelo sobre este texto é talvez poucochinho o sentido literal deste texto, até porque percebemos quando começamos a juntar peças a quantidade de símbolos aqui apresentados é uma alegoria, é uma metáfora e para chegarmos ao sumo deste fruto que é este texto, ou desta semente que pode gerar frutos no teu coração. 

E precisamos de todas as interpretações, precisamos uns dos outros, precisamos deste texto a fazer-se vida em cada um dos nossos nomes.

Saboreemos a intuição de João de nos convocar para uma festa de casamento.

E vamos, é das festas entre o registo privado da família e o registo público dos vizinhos e amigos, a festa de casamento é possivelmente a FESTA, a grande festa que as famílias viviam, que as aldeias conheciam. Diferente das festas em Jerusalém, diferente das festas mais anónimas, mais massivas, esta era a festa onde todos se conheciam pelo nome, ESTA É A FESTA!

João convoca-nos para isto, ele que dirige à Igreja, ele que se dirige a cada um de nós, somos convocados para uma festa onde nos conhecemos pelo nome, onde nos conhecemos pelo nome.

E muitos são os detalhes que aqui estão, mas também gostava que isto ficasse para a nossa curiosidade, porque é que a Mãe de Jesus não tem nome? 

Porque é que a Mãe de Jesus, que toda a gente sabe que se chama Maria, porque é que João insiste no seu evangelho a colocá-la sem nome? Porque é que ela aqui não tem nome? E Jesus trata-a anonimamente ao chamar à sua querida mãe, Mulher! 

O que é que isto quer dizer, o que é que isto nos tem a dizer?

Não esquecemos um critério de leitura do evangelho, sempre  que um personagem aparece sem nome, querido leitor, coloca o teu nome. E sim, Maria é uma de nós.

Quem queres ser neste texto?

Cada um terá as suas razões, mas a alegria não é só comédia, a alegria não é paródia, a alegria confunde-se com felicidade. 

Não sabemos bem o que isso é!

Felicidade coincide com não ter vergonha de mim, felicidade coincide em eu vestir a minha vida inteira, felicidade coincide em não precisar de esconder as minhas cicatrizes e as minhas feridas, felicidade é isso e muito mais, felicidade é uma vida vestida de pele e não haver vergonha nisso.

Possa o nosso trabalho neste tempo Sinodal e em todos os tempos, ser como Paulo lembrava aos Coríntios nesta primeira carta, possa o nosso trabalho ser esse de deixar-nos surpreender, porque debaixo da tua pele há um profeta, porque debaixo da tua pele há um erguedor, debaixo da pele "daquele" há um conhecimento para lá do óbvio, deixa-te surpreender porque para lá da pele "daquela" há uma capacidade de erguer, há uma capacidade de dar sentido.

Possa o trabalho da Igreja ser este de reconhecer carismas, reconhecer dons, reconhecer que no outro habita promessa, habita Espírito, habita Deus vivo, possa isso ser ignição da nossa alegria, possa tudo isto concorrer para a nossa eterna missão, para a missão do dia de hoje. 

Reconhecer onde falta alegria, não desistir enquanto houver gente infeliz entre nós, sobretudo por feridas geradas em comunidade. 

E, possamos nós que experimentamos o sabor do vinho novo, sermos geradores de alegria pelo dom e pelo cuidado uns pelos outros.

P. António Pedro Monteiro

Aquele que habita os céus sorri

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