terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Deus connosco


Deus connosco, a inteira humanidade surpreendes 
porque não existes na omnipotência do tirano,
mas na promessa de um nascimento que vem.
Acompanha-nos no nosso caminho para o amor,
e assim tua presença no outro perceberemos.

Deus connosco, Tu ergues a justiça e a paz,
apesar da guerra, da intolerância, do ódio.
Ensina-nos a acolher-te sem te manipular,
a construir contigo um mundo mais fraterno,
e assim nossos desertos em pomares se mudarão.

Deus connosco, Tu respondes à nossa esperança
quando connosco partilhas a tua sede de libertação.
Grava nas nossas almas a fome da tua salvação,
para que, com Maria, saboreemos a alegria
de um dia estarmos todos reunidos no teu Reino.

Deus connosco, todos os dias nos vens salvar
pelo desarmado amor do menino de Belém.
Sê a nossa estrela na noite das nossas inquietudes,
com sinais de perdão manifesta a tua vinda,
Tu, o Emanuel, do presépio ao túmulo vazio.

Jacques Gautier
Trad.: Rui Jorge Martins
  

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aquele que vive no amor...

«Aquele que vive no amor, mesmo tendo poucas coisas, vive na abundância.
Amado, é livre.
Por isso, não teme.
E, não temendo, não precisa de acumular coisas,
nem de fingir ser o que não é,
nem de recear o amanhã.
Não se incha, querendo ser o que não é.
Não se diminui, deixando de ser o que é.
Esvaziado de «coisas incertas», vive de graça.
Na verdade, vive a graça.»

P. José Frazão Correia, in "Entre-tanto"


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cântico

Renoir
Oculta contemplo
a graça da tua figura

Secreta, calada
vou compondo um chamamento

Vem
comigo ver a noite de luar,
o firmamento,
o brilho
das estrêlas, de todos os astros
em movimento;
quisera eu
imitar a sua dança,
o seu enlevo,
desnudar a minha esperança


no jardim o orvalho fresco já beijou todas as flores
os frutos
libertam um perfume encantador, vibrantes cores
É já manhã,
vem por entre o arvoredo
escutar o canto das aves,
o doce segredo

Distante miragem,
do teu olhar um leve aceno

Quando
não te tenho junto a mim todo o meu corpo é um deserto
Vem,
quero ouvir o som da tua voz, suave corrente
Vê a levante
o oásis que desponta,
vamos provar o nectar das romãs, beber das fontes
e oxalá
possam vir as minhas mãos
a ser o balsâmo
p'ra sarar as tuas feridas."

Teresa Salgueiro
In "O Mistério"

sábado, 2 de maio de 2015

Desde que nos deixaste o tempo nunca mais se transformou
Não rodou mais para a festa não irrompeu
Em labareda ou nuvem no coração de ninguém.
A mudança fez-se vazio repetido
E o a vir a mesma afirmação da falta.
Depois o tempo nunca mais se abeirou da promessa
Nem se cumpriu
E a espera é não acontecer — fosse abertura —
E a saudade é tudo ser igual.

Daniel Faria, "Explicação da Ausência" in "Explicação das Árvores e de Outros Animais"