quinta-feira, 24 de abril de 2014

Páscoa é lua cheia

Páscoa é lua cheia, inconsútil, inteira,
Sementeira de luz na nossa eira.

Deixa-a viver, crescer, iluminar.
Afaga-lhe a voz e o olhar.

Não lhe metas pás, não lhe deites cal.
Não lhe faças mal.
Não são notas enlatadas, brasas apagadas.
É música nova, lume vivo e integral.

Não é paragem, mas passagem,
Aragem a ferver e a gravar em ponto Cruz
A mensagem que arde no coração dos dois de Emaús.
A Páscoa é Jesus.


D. António Couto

domingo, 13 de abril de 2014

Contemplar


«Se soubéssemos contemplar a realidade de cada um dos nossos dias, cairíamos de joelhos diante de tanta graça e beleza.»

Christian Bobin

Foto- Vincent Brady


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Mas tu existes

E aos dias vou eu 
somando de tudo o que vejo, 
o que leio, o que penso 
e o que amo.
Enquanto estes dias
estão vivos 
e a primavera,
nas flores..
Alice


Os dias somam ruína à ruína
E o vir multiplicará
A miséria.
Apodreço não adubando a terra
E cada dia somado a cada hora
Não completa o tempo.
Sei que existes e multiplicarás
A tua falta.
Somarei a tua ausência à minha escuta

E tu redobrarás a minha vida.

Daniel Faria


foto: camélias em Soutelo

domingo, 6 de abril de 2014

Tenho Saudades do Calor ó Mãe


Tenho saudades do calor ó mãe que me penteias
Ó mãe que me cortas o cabelo — o meu cabelo
Adorna-te muito mais do que os anéis

Dá-me um pouco do teu corpo como herança
Uma porção do teu corpo glorioso — não o que já tenho —
O que em ti já contempla o que os santos vêem nos céus
Dá-me o pão do céu porque morro
Faminto, morro à míngua do alto

Tenho saudades dos caminhos quando me deixas
Em casa. Padeço tanto
Penso tanto
Canto tão alto quando calculo os corpos celestes

Ó infinita ó infinita mãe

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"


terça-feira, 1 de abril de 2014

A difícil Bênção da Vida e da Fé


«Entre outras coisas, num pequenino cartão, escreveu-me, há tempos, uma pessoa cara: ‘Apreciei muito o seu convite, mas, infelizmente, não o poderei aceitar. Sei que seria uma bela ocasião para voltarmos a conversar, mas devemos respeitar e abraçar a difícil bênção da contingência’. Respeitar e abraçar a difícil bênção da contingência. Extraordinária sabedoria de vida. E extraordinária síntese da vida. Bênção e custo. Dom e conquista. Promessa e limite. Inseparavelmente. Do mesmo modo a fé em Jesus Cristo. A graça do dom de Deus. O custo do reconhecimento humano. E, entre um e o outro, a difícil inscrição da fé na vida de cada dia, nos encontros de todos os dias, sobretudo quando o custo parece fazer esquecer a graça, e a banalidade, a promessa e o vazio, a alegria. Porém, é assim que nos espera a vida. É assim que se realiza a fé. E é tanto.
Entre estas linhas, na forma de um tríptico, se desenham as páginas que seguem. Como um interstício, no centro está a fronteira, lugar de passos e de passagens, de perdas e de paixão. Se nos custa reconhecer como a fé se tornou irrelevante para tantos e como, por vezes, faltam às comunidades cristãs a força dos gestos e a unção das palavras que sejam capazes de dar um corpo vivo à graça do Evangelho, poderemos chegar a receber esta experiência de prova como bênção de um tempo favorável.»

Entre-tanto: A difícil Bênção da Vida e da Fé 

p. José Frazão Correia sj, 

Imagem - klimt Bauerngarten