Vai adiantado o tempo
da Quaresma,
E eu continuo ainda
aqui parado
Nesta página em
branco da calçada.
Sei bem que foste tu
que me puseste em movimento,
Que teceste o meu
ser,
Que me deste a vida e
de comer,
Que me acolheste e me
acolhes sempre em tua casa.
Como é que estou
então aqui parado na berma desta estrada,
Pensando que fui eu
que me pus no ser,
Que sou dono de mim,
Que esta vida é
minha,
Minha é esta casa,
este pedaço de chão,
Este naco de pão
E até este coração?
Não fiques aí parado,
meu irmão.
Ergue-te e vai pelos
nós do vento,
Chegarás por certo à
pátria do Espírito,
Submisso ao sopro
obsessivo do silêncio.
Olha com mais atenção
O chão que sonhas,
O céu que lavras.
Recomeça!
Conquista o espaço
Onde a palavra cresça
Longe do ruído das
palavras!
António Couto